Seis shoppings em SP, Rio e Goiás fecham acordo para criar manual de conduta para seguranças combate

fonte: G1
A Faculdade Zumbi dos Palmares e o Instituto Cyrela Commercial Properties (ICCP) fecharam parceria, nesta sexta-feira (7), para iniciarem mudanças no protocolo da segurança privada feita em shoppings com o propósito de combater o racismo. Vão participar os shoppings Cidade São Paulo, D e Tietê Plaza Shopping, em São Paulo; o Grand Plaza Shopping, em Santo André; Shopping Metropolitano Barra, no Rio de Janeiro; e o Shopping Cerrado, em Goiânia.
O projeto faz parte do Movimento AR, uma mobilização voluntária com o propósito de realizar mudanças e transformações sociais por meio de ações efetivas de combate ao racismo, ao preconceito e à discriminação racial contra negros. Em junho, o movimento lançou o manifesto "Vidas negras importam: nós queremos respirar" t De acordo com o ICCP, os seguranças serão convidados a participar de "rodas de conversa", com objetivo de "analisar e promover eventuais ajustes nos protocolos de abordagem, considerando a perspectiva de clientes, lojistas e colaboradores." José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, afirma que "a assinatura dessa parceria é muito importante para o primeiro mês do Movimento AR e para sociedade como um todo. Vem se somar aos nossos esforços junto aos poderes públicos que estamos, arduamente, trabalhando para a conscientização e efetiva mudança de protocolos policiais. Agora, com as ações do ICCP, poderemos levar a todos o que o Movimento AR prega com as possíveis adaptações de abordagens, abertura de vagas de estágio para negros e o apoio à Zumbitek." Nesta quinta-feira (6), o entregador Matheus Fernandes, de 18 anos, foi agredido e ameaçado por dois homens no Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O jovem, que é negro, foi ao centro comercial para trocar um relógio que havia comprado para o Dia dos Pais. Câmeras de segurança da Loja Renner, no Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, registraram o exato momento em que o entregador Matheus é abordado por seguranças sem ter feito nada demais. Logo depois, o jovem foi agredido e ameaçado por dois homens, um deles com uma arma de fogo. A Polícia Civil identificou um dos seguranças como policial militar. Segundo o delegado responsável pelas investigações, as imagens mostram que o jovem sofreu o crime de racismo. Após ser abordado dentro da loja, o rapaz foi levado para a escada de emergência do shopping. Ele diz que não adiantou ter mostrado um documento de identificação e a nota fiscal que comprovava a compra do relógio. Nas imagens, é possível ver um segurança uniformizado que não faz nada para impedir a agressão. Para o reitor, esse tipo de comportamento em shoppings é muito comum no Brasil. "Esse tipo de postura por parte dos seguranças de shopping é bastante comum, mas não só nos shopping, mas em hipermercados também. Em regra, a presença do jovem negro nesses espaços é tida com reservas e por vezes o tratamento resvala na falta de respeito, preconceito", disse o reitor. Segundo ele, "as pessoas negras têm reclamado demais da forma como são tratadas nesses locais. O racismo nessa perspectiva se manifesta nas mais diversas maneiras." O ICCP informou que "além de ouvir os seguranças, o Movimento AR, contratou o Data Zumbi para ouvir, a partir da próxima semana, a opinião dos colaboradores, lojistas e clientes sobre a relação de abordagem dos seguranças relacionadas à questão racial. O levantamento será feito nos seis shoppings que firmaram parceria, em São Paulo, Santo André, Rio de Janeiro e Goiânia. Com base nos dados coletados nessa pesquisa que será formulado um novo "Manual de Conduta" para nos seguranças e uma campanha de conscientização da importância dos profissionais de seguranças nesses estabelecimentos. "Precisamos educar para transformar. Elaboramos um manifesto com ações que, em alguns casos, basta apenas fazer com que as leis sejam cumpridas. Não estamos pedindo nada, queremos o direito de auxiliar a sociedade a se organizar de uma forma onde não exista distinção pela raça. Para isso a educação de nossas crianças e jovens negros é essencial, mas também a educação nos ambientes corporativos é preponderante que os profissionais sejam envolvidos e aprendam a fazer a gestão da diversidade", disse José Vicente. Vicente disse que apresentou o manifesto do Movimento AR ao ministro do STF, Dias Toffoli, ao comando da PM de São Paulo, ao procurador geral de Justiça de São Paulo, Mario Luiz Sarrubo, e ao secretário da Segurança Pública do estado de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, e ao prefeito de São Paulo, Bruno Covas.