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Negro continuará sendo oprimido enquanto o Brasil não se assumir racista, dizem especialistas


fonte: HEAD TOPICS

link: https://headtopics.com/br/negro-continuar-sendo-oprimido-enquanto-o-brasil-n-o-se-assumir-racista-dizem-especialistas-13865324


Estudiosos da desigualdade racial afirmam que, para que a luta contra a discriminação da população negra produza resultados consistentes, há um passo decisivo que nós, brasileiros, ainda não demos: assumir que somos, sim, racistas. Por Agência Senado

'Brasileiros entendem que é lá fora que existe ódio racial, não aqui. Acreditam que vivemos numa democracia racial, felizes e sem conflito. Essa é a perversidade do nosso racismo', afirma o advogado e sociólogo José Vicente

, os brancos criaram mecanismos menos explícitos do que as senzalas e os grilhões para manter os negros num lugar de subordinação.As pessoas de pele negra puderam deixar a servidão, mas não receberam os instrumentos necessários para tocarem a vida por conta própria com dignidade. Eles não ganharam terra nem escola, apesar de parlamentares terem apresentado projetos de lei nesse sentido. Tampouco prosperaram os planos de indenizá-los pelos anos de cativeiro. Restringiram-lhes até mesmo o trabalho. Para as plantações de café e as primeiras indústrias, o Governo preferiu incentivar a imigração de trabalhadores da Europa e da Ásia.O professor Silvio Almeida diz que, da escravidão ao formato atual, o racismo foi se metamorfoseando no correr no tempo, hábil em adaptar-se às mudanças da sociedade:— No começo do século 20, por exemplo, estava em voga o

racismo científico. No meio acadêmico, havia a ideia de que era o elemento negro que produzia a desordem e as crises que o Brasil vivia na Primeira República. O racismo científico, assim, legitimou o uso da violência contra essa população. Ao mesmo tempo, acreditava-se que a miscigenação seria benéfica para o país porque, nessa mistura, o sangue branco forte prevaleceria sobre o negro fraco e haveria o branqueamento da população. Aquele grupo desestabilizador acabaria sendo eliminado. Sendo mais direto: eugenia. Na década de 1930, o discurso que passou a vigorar foi a da democracia racial. O Brasil seria um país plural, com o branco, o negro e o headtopics.com

convivendo em harmonia, todos importantes, desde que cada raça ficasse no seu lugar. Já não se pensava mais em eliminar o negro, mas sim em mantê-lo numa posição subalterna.Na visão do reitor José Vicente, o racismo hoje se apresenta “desfigurado, multifacetado e extremamente escorregadio”:

—A casa grande e a senzala continuam existindo, só que agora com uma tintura de modernidade.O racismo foi sofrendo mutações e se aprimorando ao ponto de ter ganhado uma sutileza que faz com que muitas vezes só seja detectado no detalhe. Veja a lei de 2003 que tornou obrigatório o ensino da história da África e da cultura negra nas escolas. É um conteúdo importante e necessário, acima de tudo porque 55% da população brasileira é negra. Mesmo assim,

. Os diretores e os professores vão encontrar mil argumentos para justificar o descumprimento e dizer que isso não tem nada a ver com o racismo. Muitos são racistas por ignorância, desconhecimento, mas outros tantos são racistas de forma esclarecida, consciente.

O que vigora no Brasil é o queos estudiosos chamam de racismo estrutural. O racismo é estrutural porque se apresenta como um alicerce em cima do qual se constroem as relações políticas, econômicas e sociais no país. As pessoas e as instituições são moldadas, por vezes de forma inconsciente, para encarar como normal que brancos e negros ocupem lugares diferentes. É por isso que quase ninguém se choca com tantos negros assassinados nas periferias das cidades e tão poucos negros presentes nos governos e nos tribunais. headtopics.com

O conceito de racismo estrutural mostra que o queexiste é um movimento da sociedade como um todo para tirar da população negra e dar à população branca. Dessa forma, mas sem ignorar as responsabilidades pessoais, ações pontuais de racismo se apresentam como manifestações em menor escala de um comportamento que é mais amplo e coletivo. Assim como o racismo, no Brasil também o machismo é estrutural.

— Sabe quantas pessoas estão presas hoje no Brasil por terem cometido atos de racismo? — pergunta o advogado Humberto Adami. — Nenhuma. Esse é mais um sinal do nosso racismo estrutural. Temos leis que preveem punições para os crimes de racismo e injúria racial, mas elas não são aplicadas. E não são aplicadas porque simplesmente não há a demanda por parte da sociedade.

— Ser negro no Brasil é ter a convicção de que você vai receber do mundo um tratamento diferenciado — afirma o reitor José Vicente. — Os direitos mais comezinhos não vão lhe ser disponibilizados na sua inteireza, e você sempre vai ter que exigi-los com mais intensidade e até brigar por eles. Nem mesmo o direito de ir e vir pode ser usufruído de forma serena.

Toda vez que o filho negro sai de casa para ir à escola ou ao cinema, o pai negro precisa lembrá-lo das estratégias de sobrevivência: não usar gorro ou boné, manter a roupa alinhada, levar o documento de identidade e até a carteira de trabalho, baixar a cabeça e levantar as mãos se for abordado pela polícia. O filho branco, ao contrário, pode usar a roupa toda rasgada e ter a certeza de que não vai ser importunado. Ser negro significa estar num processo de embate permanente nos ambientes públicos e até nos privados. headtopics.com

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